Dulcilia Buitoni foi uma das figuras marcantes que estiveram presentes no SBPJor. Reconhecida pela sua trajetória acadêmica e por sua contribuição para o campo do jornalismo, ela recebeu o prêmio Adelmo Genro Filho na categoria Sênior. Pesquisadora que carrega uma bagagem histórica digna de compartilhamento, atuou como professora de Comunicação em São Paulo e foi amiga de Vladimir Herzog.
Sua tese de doutorado virou o livro Mulher de Papel, uma análise da representação da mulher na imprensa feminina brasileira. Ela discute, pesquisando em mais de um século de publicações (até os anos de 1970), em que medida a imprensa difundiu conteúdos que influenciaram na formação da consciência da mulher. “Fiz relação de como o modelo de mulher americana estava presente no modelo de mulher brasileira”, conta.
Acredita que ainda seguimos padrões e destaca a importância de pesquisas que ainda hoje analisam como as mulheres brasileiras copiam atitudes e comportamentos de mulheres de outros países e como a imprensa é fundamental nesse espelhamento. Dulcilia cita um aluno seu que elaborou pesquisa em torno da revista Cláudia e como ela contribuiu para a naturalização da prática da cirurgia plástica. “Hoje, mutilar ou acrescentar prótese para transformar o corpo é algo banal e aceitável. Ter peitos grandes é algo das americanas que simplesmente as brasileiras aderiram”, analisa.
A pesquisadora diz que muito já foi feito pela autonomia das mulheres, mas diz que esperava mais. Acredita que a situação não mudou tanto quanto deveria daquela época para os dias de hoje. “A mulher continua sendo objetificada, só que hoje com a desculpa de agora eu faço isso por mim mesma”. Ainda assim, pouco ou muito, certamente os estudos de jornalismo e do papel da mulher progrediram no Brasil com a contribuição de Dulcilia Buitoni.
Texto: Marina Borba Camargo
Foto: Douglas Heinzen