Entrevista – Luiz Gonzaga Motta

[lang_pt]Jornalista profissional e professor da Faculdade de Comunicação da Universidade de Brasília, Luiz Gonzaga Motta é doutor em Comunicação pela Universidade de Wisconsin, com pós-doutorado em comunicação pela Universidade Autónoma de Barcelona. Atualmente coordena o Grupo de Mídia e Política da UnB. Vice-presidente da SBPJor e editor da Brazilian Journalism Research, nesta entrevista, Motta avalia o impacto da revista e fala sobre o processo de produção da primeira publicação brasileira no campo da comunicação totalmente editada em inglês. SBPJor Notícias – Depois de quatro números publicados, que avaliação pode-se fazer do impacto da Brazilian Journalism Research? Luiz Gonzaga Motta – Uma avaliação muito positiva. A revista é inovadora por ser editada em inglês, o idioma da comunidade acadêmica internacional hoje em dia. É inovadora também porque cria uma identidade mais definida para uma área de pesquisa acadêmica, os estudos do jornalismo, que estava muito diluída em outras revistas sobre comunicação em geral. Essa área tem densidade, necessitava de um veículo próprio. É inovadora ainda em seu desenho gráfico, muito bem planejado e rigorosamente seguido nas edições já publicadas. A revista conseguiu reunir no seu Conselho Editorial scholars de nome internacional, que lhe conferem credibilidade. Por fim, seu impacto tem sido positivo porque os pesquisadores da área começaram a reconhecer na revista um espaço de diálogo sobre suas análises e cada vez mais enviam espontaneamente os seus artigos para publicação. SN – Em cada edição existe a publicação de um Dossiê. O que a revista pretende com a publicação destes núcleos temáticos? LGM – A comunidade de pesquisadores em jornalismo tem reclamado da dispersão das pesquisas, temas e metodologias empregadas. E da pulverização de publicações. Neste sentido, o “Dossier” vem preencher um vazio suprindo os pesquisadores com artigos que fazem uma revisão de algumas áreas específicas ou levantando o estado da arte de algumas abordagens ou temáticas atuais da pesquisa em jornalismo em geral. A seção “Dossier” esta conseguindo ser um lugar de concentração de temáticas. Poderá vir a ser um ponto de encontro entre teorias, um espaço de agregação de idéias e de metodologias muito útil daqui para frente. SN – O fato de a revista ser publicada em inglês reduz a quantidade de colaboradores? A revista tem recebido número suficiente de colaborações? LGM – Como em qualquer outra iniciativa, há pontos positivos e negativos ao se decidir editar no Brasil uma revista em inglês. A maior vantagem é colocar a pesquisa brasileira, comparativamente de muita qualidade, no circuito internacional. O inglês, queiramos ou não, tornou-se o idioma da comunidade acadêmica internacional, principalmente depois da Internet. Isso estimula muitos autores a enviar artigos. Por outro lado, é verdade que o idioma limita em parte porque a maioria dos pesquisadores brasileiros não escreve originalmente em inglês, a tradução custa caro e há o risco do artigo não ser aprovado pelo Conselho Editorial. Alguns autores se acomodam. Mas é gratificante ver um número cada vez maior de artigos ser enviados para a publicação na revista. Isso indica que os autores brasileiros estão se dando conta que publicar hoje em inglês significa dar muito maior visibilidade às suas pesquisas. SN – O próximo número da BJR sobre liberdade de imprensa será publicado com o patrocínio da Unesco. Que significado tem este tipo de parceria? LGM – Esta é a primeira iniciativa de parceria de publicação. Outras virão. A parceria com a Unesco em um número especial sobre liberdade de imprensa significa maior visibilidade internacional para a revista. Além disso, uma entrada da revista em circuitos institucionais pouco alcançados pelos processos de distribuição regular. Significa também um reconhecimento por parte de uma instituição influente, como a Unesco, do prestigio da nossa revista. Tudo isso ajuda a revista, ainda muito nova, a ganhar visibilidade, prestigio e reconhecimento nacional e internacional. Há outras parcerias em vista para o futuro. SN – Como são divididas as atividades de edição da revista? Qual é a equipe que garante que a BJR chegue até aos leitores? LGM – Cada edição é pensada a partir de sugestões do editor executivo. Essas sugestões, em geral, são discutidas com outros membros da diretoria da SBPJor e ampliadas. As sugestões são sistematizadas pelo editor, que estabelece também um cronograma de edição. O “Call for Paper”, difundido através de todos os canais e listas possíveis, relembra à comunidade acadêmica do calendário do número a ser publicado. Assim que os papers começam a chegar, eles são vistos primeiro pelo editor que faz a primeira clivagem, e posteriormente enviados para parecer dos membros do Conselho Editorial. Aqueles papers que recebem parecer positivo entram no número seguinte. Alguns papers são reenviados aos autores para revisão, com o parecer anexo (sem identificação). Os artigos recusados são reenviados aos autores também acompanhados dos pareceres negativos. Os artigos publicados no “Dossier” são, quase sempre, de autores convidados pelo editor executivo ou pela diretoria da SBPJor e não são enviados aos pareceristas. O “Dossier” traz dois ou três textos, seguido de seis ou sete artigos. Os textos de resenha de livros (book reviews) são selecionados pelo editor executivo em colaboração com o editor de book review da revista. SN- Depois da aprovação dos textos o que acontece? LGM – Com os papers aprovados, o editor fecha a edição. A partir dessa decisão, os textos são todos enviados a um revisor do inglês, que revê tudo: títulos, abstract, tabelas, texto principal, etc. Simultaneamente, os textos são enviados aos diagramadores, que iniciam o desenho gráfico da edição, seguindo fielmente os padrões do projeto gráfico. Além disso, o editor escolhe a foto que ilustrará a capa. Antes da revista seguir para a gráfica, uma editora-secretária revê o conjunto e os detalhes, evitando pequenos erros. Só então os textos seguem para a gráfica para impressão. Após a decisão de editar até a revista ser enviada à gráfica, demora-se em geral dois meses. SN – Até que seja aprovado quais as etapas que um artigo tem que superar para que possa ser publicado na BJR? LGM – Assim que chegam, os artigos são enviados a dois membros do Conselho Editorial da revista. Cada um deles emitirá um parecer, que podem ou não coincidir. O editor executivo tem autonomia concedida pela direção da SBPJor para dar a palavra final, em caso de dúvida. O editor executivo também tem autonomia para recusar preliminarmente textos cujos conteúdos não se enquadram na linha editorial da revista (temas muito distantes da pesquisa em jornalismo, trabalhos exclusivamente valorativos, etc.). Recebendo parecer positivo, o texto é programado para entrar na edição seguinte. Ele é enviado para revisão do inglês (há um único revisor, para padronizar o estilo). Finalmente segue para a diagramação. E por último, para a gráfica junto com os demais textos.[/lang_pt]