[lang_pt]
Luiz Gonzaga Motta foi o sócio indicado pela SBPJor para representar a Associação na comissão de especialistas que vai subsidiar o Ministério da Educação na revisão das diretrizes curriculares dos cursos de Jornalismo. Doutor em Comunicação de Massa pela Universidade de Wisconsin e professor adjunto da Universidade de Brasília (UnB), Motta fala sobre as razões para a revisão das diretrizes, sobre o processo e o papel da SBPJor.
1. O estabelecimento das diretrizes do curso de jornalismo pelo Conselho Nacional de Educação (CNE) ocorreu em 2001. Por que é necessário revê-las passados apenas oito anos?
Em oito anos, a profissão de jornalista mudou muito no Brasil. Novas tecnologias da informação se disseminaram muito rapidamente, interferindo no tempo de apuração, redação e disseminação da informação. Essas tecnologias mudaram profundamente a forma de percepção da realidade pelo jornalista e a sua relação com os públicos. Por outro lado, mudou também a configuração política do país, que consolidou sua democracia. Hoje, há muitos outros atores sociais no jogo político. Toda instituição pública ou privada tem uma assessoria de imprensa que contrata jornalistas. A mídia tornou-se um espaço mais público, mais diversificado, mais plural. A notícia saiu das redações, passou a ser produzida por uma diversidade muito maior de organizações que há dez anos. Novas vozes entraram em cena. E alteraram as exigências profissionais. Mudou também a economia, e muitos profissionais se autonomizaram, viraram gestores, criaram suas próprias empresas que são empresas jornalísticas. Essas intensas mudanças tecnológicas, político-institucionais e econômicas exigem agora um profissional mais bem equipado que no passado recente. Penso que novas diretrizes escolares podem indicar caminhos para uma formação profissional mais adequada a essa realidade social.
2. O processo de revisão das diretrizes incluirá consulta disponível na internet e três audiências públicas. Para a primeira, foram convidados professores e intelectuais da área; na segunda, representantes das associações, entidades de classe e jornalistas profissionais que estejam no mercado de trabalho; e para a terceira, segmentos da sociedade civil, movimentos sociais e organizações não-governamentais. Qual a importância do envolvimento desses diversos segmentos?
As audiências públicas foram pensadas para abranger todos os segmentos envolvidos com o novo profissional do jornalismo. Por exemplo, a terceira audiência ouvirá a sociedade civil, particularmente. Quem comparecerá a essa audiência? Certamente algumas organizações não governamentais e entidades que antes não faziam parte do segmento profissional nem da cultura jornalística. Hoje, há entidades da sociedade civil muito envolvidas com a prática profissional e com a formação. Buscam um novo jornalista, preocupado com as políticas públicas sociais, com a agenda pública, com as questões ambientais, sociais, movimentos sociais, etc. Cito, por exemplo, a Agencia de Notícia dos Direitos da Infância (ANDI), que em 15 anos, interferiu decisivamente para melhorar a quantidade e a qualidade da cobertura de temas ligados à criança. Essa entidade interferiu não apenas na prática profissional. Muito corretamente, está agora procurando intervir também na formação profissional, e certamente terá muito que dizer à comissão do MEC. E assim por diante. Será benéfico para a comissão ouvir essas entidades.
3. De que maneira a SBPJor vem contribuindo no trabalho da comissão de especialistas que vai subsidiar o Ministério da Educação na revisão das diretrizes curriculares do curso de jornalismo?
[/lang_pt]